quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Reptilia.

Caí das escadas abaixo e acordei com um olho inchado de sangue. Fiquei pisado pela madeira maciça que me atraiçoou. A minha carne levantou-se com vigor e deixou para trás uma pequena alma penada. Ficou a fazer companhia à minha sombra que, bem lá no fundo sempre precisou de um companheiro para as noites mais frias. A minha companhia é mesmo o áspero frio da noite húmida em que estou. Húmida como uma gaivota, sente o mar, mas nunca se molha. O frio nunca é problema porque aguça o pensamento, até dos cérebros mais perguiçosos. O sangue verde corre-me nas veias e faz-me correr pelas paredes em busca de algo que nunca sei se vou encontrar. Para trás deixo partes de mim. Sem arrependimentos, consigo recuperar sempre e tornar-me mais forte. O meu lado viscoso é algo a que me habituei. A cola que me sai dos dedos e arrepia toda a gente em quem toco faz de mim o alvo de muitas solas. Poucas oportunidades me foram dadas. Poucos sabem que sou eu quem aterroriza as noites de quem lhes quer mal. Mas quando eu crescer vão ver os caninos que me crescem na frente da boca e o quão forte é a minha mandíbula.

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