terça-feira, 21 de agosto de 2012

Animalização

Uma horde de cavalos passeia-se antes de passares. Mas a presença destas criaturas que consideras tão majestosas não se deve apenas à beleza. Há todo um espectro que eles representam. Cada um deles representa um pouco de ti. Tranquilidade, Liderança, Humildade, Confiança, Coragem. Atrás vens tu, a segurar-lhes nas rédeas com uma pega apertada, para não os deixares fugir. Há medida que passas, as pessoas param o que estão a fazer e contemplam o maior espetáculo que alguma vez viram. Os cavalos encantam-nas e elas ficam quase com vontade de deitar tudo a perder e de os seguir... de te seguir.

Mas se a beleza dos cavalos gera uma admiração, gera também inveja. E há pessoas que te rachariam o crânio se pudessem, arrancavam a cabeça a cada um dos teus belos cavalos. Sabes bem o que vale cada um deles, estão bem cuidados, usados, em forma. São eles que protegem a tua graciosidade interior. São eles que evitam que caias no abismo. Foges dos caminhos com gente, afastas-te, mas assim que avistas alguém, os cavalos começam a relinchar, para desviar as atenções de ti.

Mas nem sempre resulta. A inveja transforma-se em matilhas de lobos que corrrem ao lado dos teus cavalos e lhes mordem as pernas. São muito mais fortes que as majestosas criaturas que dominas. Cada um que é abatido é um parte de ti que corre, que morre. Já não tens muitos.. nunca pensaste em mudar de estratégia?

Porque é que tens de andar sempre a correr? Nunca te conheci sem que estivesses em movimento. Vais-me dizer que não sabes como o fazer e tens um orgulho cavalar que te impede de pedir ajudar. Mas está na altura de pendurares a sela e a rosnar aos lobos. É que eles só reagem àquilo que mexe. Se estiveres quieta, bem parada, nada de mal te vai acontecer. Confia em mim.

domingo, 12 de agosto de 2012

Vamos a isto

Um passado trémulo de memórias e rico em virtudes aviva a esperança de um futuro promissor. Quem sabe dê para levar uma estalada de ar fresco na cara. Ideias frescas, criações frescas. Mas os tímpanos explodem com a densidade dos batimentos cardíacos que vibram por cada centímetro do teu corpo. Agarras-te aos ouvidos e ao coração, porque estão ligados. Nem assim consegues evitar uma queda de trezentos metros mentais. Cais, mas levantas-te zonza e a marchar em direcção àquilo que identificas como futuro. Não sabes do que se trata mas atrai-te. Põe-te a mexer, desperta em ti arrepios molhados na pele seca. Queima-te a língua como água a ferver. Deixa-te desperta, atenta ao perigo. Assim que dás um passo em falso, és apanhada e quando não és sentes-te uma canalha sorridente mais feliz que o Zé do Telhado.

É assim que te sentes? Sacaneada pela vida, iludida por fantasmas do passado e perseguidora de incógnitas do futuro? Então fica sentada, não te mexas, não faças nada, que o mundo faz o favor de se transformar num cubículo gigante, forrado com paredes brancas, que te isolam. A cela que criaste vai-se tornando mais pequena e mais confortável, até que se ajusta às tuas medidas. A única forma de saíres é se alguém te puxar para fora. Mas isso seria desconcertante, desconfortável e descabido. Na verdade, a escolha foi tua, e agarras-te ao chão, fazes feridas de agonia nas pontas dos dedos. Não de dor, mais de impaciência. Para quando a leitura da sentença?

Acorda dessa hipnose intelectual. Desperta desse sono consciente. Estás sempre a tempo de te descalçar da penúria. De rasgar as olheiras de sofrimento e de sorrir. Sorrir apenas. Sorri para mim, por favor. Quero ver e quero que sejas tua e minha. Que nunca me deixes, só quando quiseres. E que queiras muito.