sexta-feira, 1 de julho de 2011

Era uma vez

Era uma vez uma história. Todas as histórias que se prezem começam com 'era uma vez'. 'Era uma vez' em que eu era feliz. Essa história acabou de começar e é contada na primeira pessoa. Junta todas as cores do mundo. Vermelho do sangue que corre nas nossas vidas e nas nossas veias. Verde da relva que pisamos descalços e dançamos ao som dos nossos próprios lábios. Azul do mar que perseguimos mas que nos foge escondendo-se num céu ainda mais infinito. Branco dos prédios à nossa volta, a grandiosa selva de betão que abraçamos porque é agora a nossa casa. Preto da noite onde podemos ser nós próprios, fugir do mundo e libertar o alter-ego que anseia por ti. Castanho da árvore onde nos tornámos imortais, a velha figueira que se despe no Inverno.

A nossa carne e os nossos ossos são os protagonistas, manipulados constantemente por dois cérebros perversos que não conseguem parar de sorrir quando se encontram. Correm líquidos por toda a parte. A água onde nos banhamos e o vinho que bebemos. Todas as histórias têm um cenário, menos esta. Esta passa-se num sítio onde as piranhas engolem ursos e onde tu não me podes encontrar a não ser que eu te sussurre ao ouvido 'Vem comigo'. A luz do Sol, das outras estrelas, reflectida nos planetas onde viajamos de mão dada e que descobrimos a cada dia. A Lua que descansa o coração do Sol e nos dá uma parte dele sem ele saber. Nós acenamos e agradecemos. Está cheio de acções nossas, minhas tuas, de sorrisos, de toques, de olhares ainda tímidos, de silêncios aconchegantes e de arrepios desconcertantes. Mas não temos frio, nem calor. Temos sim uma grande fome de saber e uma ainda maior sede de aprender. Queremos aprender quem somos, o que nos torna reais, o que nos separa e torna diferentes e o que nos une, para além de sermos apenas nós e de termos uma vontade de viver que chega quase a fazer-te corar. Quiseste ver-me por dentro e eu deixei porque não tenho segredos nem fachadas, porque sou apenas eu.

Portanto não tenhas pressa, eu tenho tempo e tu tens muito mais do que eu. A que horas queres que te vá buscar? A história é nossa, somos nós que a escrevemos e os erros ortográficos não existem porque nós escrevemos com os olhos, com os ouvidos, com o nariz, com os dedos, com a boca, mas sobretudo com o Coração.