Tens tanta sorte de não te espetar com o meu ferrão venenoso com que já espetei tanta gente, de não estares presa nas minhas garras. E o quanto eu gostava que estivesses. Caminha para mim, porque és perfeita, e vem depressa porque eu estou farto de lentidão. Quero explodir todo o veneno que há em mim, mas preciso de alguém imune. Quero ter o controlo das brasas que piso descalço, para que os meus pés não ardam e que a minha pele não queime lentamente as células sensíveis. Não há lugar para mais sensibilidade, felicidade ou destreza mental.
Mas ainda há esperança para nós, os seres com a face mais horrenda e com as entranhas mais frágeis. Estás atrasada, mas eu mando o relógio parar porque o tempo é nosso e surfamos nele até às horas que quisermos. O mundo pertence-nos. Como eu queria tanto tirar todo esse peso das costas. Porque é que me pertence a mim, esse bicho nojento? Porque me quer foder, já me fodeu.
Segue as minhas ordens e põe-te em posição, não estejas triste porque as lágrimas são minhas e eu não tenho pena de ti. Só te peço para preencheres o vazio que o vento empurra na minha direccção. Toda a gente se põe atrás de mim e eu, contente, deixo com franqueza e abro os braços ao meu destino: recebê-lo com prazer, sorrir e dar-lhe as boas vindas enquanto me chicoteiam as costas já feridas de facas. Lavam-me as feridas para haver espaço para mais uma facada, num sítio onde eu sinta bem. A minha boca está cerrada e assim permanecerá porque um adesivo colou-a há já tanto tempo que é ela se tornou parte de mim.
Não lhes sigas o exemplo.