Não te vejo porque te escondes. Escondes-te por entre os pingos de chuva e enfias a cabeça debaixo da areia ao sinal do meu incómodo. Eu tiro-te o conforto e apelo ao perigo, sou perigoso. Tu não tens medo, queres tanto quanto eu cair na minha rede e que eu te agarre para sempre. Sou arriscado, um risco que não sabes se podes correr porque nunca correste. Nunca correste ao lado de um unicórnio branco, depenado. Deste-te ao trabalho de o depenar para te certificares que ele não voava e no entanto... Tens medo de o montar, mesmo sabendo de todos os sítios onde ele te podia levar. Eu acho que tu sabes de tudo isto, tentas lutar contra a tua natureza que te prende à Terra Mãe e recusas-te a viajar no comboio para longe. Tens uma estaca que te prende e estás à espera que eu te solte. Diz-me onde está essa maldita, mostra-te. Se te escondes não consigo despedaçá-la e despedaço-nos aos dois. É isto que acontece quando duas criaturas feitas do mesmo se encontram contra todas as possibilidades. Aparece, quero-te libertar desse colete de forças que criaste em ti mesma, quero-me libertar de um sonho que sei que pode ser Liberdade. Agora é tarde para desistires, estás só a adiar o desfecho... porquê?
O cepticismo é fatal em questões do amor de algibeira e tu tem-lo de sobra. Livra-te dele e cairás quando tiveres de cair. Honrando uma promessa que fiz a mim mesmo e a quem lê o meu pensamento, "agora que estamos sós, vamos ser apenas nós". Nunca fez tanto sentido, mas ainda assim, tu recusas-te a oferecer-me a tua mão de bandeja. Nem eu a queria assim, quero-a fechada e trancada com chaves impossíveis de encontrar. Quero procurá-las enquanto te encontro. É irónico como o universo está cheio de estrelas, planetas e pessoas e no entanto foste tu quem eu escolhi, como se pudesse escolher. Não foi mais ninguém.