domingo, 29 de maio de 2011

Para a frente

No futuro vou fazer história e vou fazer o que quiser, o que me der na gana. E vou fazê-lo por mim, não por mais ninguém. Vou escrever o meu nome no fundo do Oceano Índico, tirar fotos à lula gigante e abraçar um urso polar. Vou ao topo do Evareste e vou continuar com tanto para dar. Aos monges do Nepal, aos aborígenes australianos e a mim mesmo. E tu vais continuar a ser tu, essa versão de ti que eu nunca conheci e vais ser feliz a sê-lo.

Mas vou sempre em frente, sem palas nem cintos de segurança disposto a errar se tiver de o fazer. Não é o único caminho, é verdade e o passado é um bom sítio para visitar mas não muito bom para se viver. Quero viver longe daqui, na Austrália, ser mordido por cobras e aranhas. Na Suécia, num iglô. Quero descobrir-me, em todos os contextos, com todas as pessoas, tanto para amadurecer, tanto para viver. Passa-me a garrafa, preciso de um trago, ou dois, talvez três, os que quiseres.

Mas desta vez não ma voltas a tirar, vou ser eu quem decide o que é melhor para mim, vou ser eu próprio, sem fachadas, sem medos nem ressentimentos. Vou para a frente, para a frente da guerra, mas desta vez não vou apaziguar as hostes, vou combater contra ambas as partes e lutar para sobreviver. Vou para a frente, pensar como um homem de acção e agir como um homem que pensa. Mas não vou pensar muito, porque não serve de nada, não nos trás o que queremos. Só temos o que queremos quando nos mexemos e fazemos algo para o conseguir, mesmo que às vezes nos apontem um revólver à testa e nos digam para parar. Estão apenas a testar a nossa coragem. Não importa para onde vou, para onde me levam, porque vou para a frente, vou ser o primeiro, vou triunfar e vou amar cada segundo dessa vitória enquanto a celebro como um rei no seu aniversário. Já não preciso mais de estar sozinho, meia dúzia de capangas fazem falta e tornam-me completo como mais ninguém consegue nem pode conseguir.

Se há algo que precisam de saber, que eu preciso de saber, é que não vou voltar atrás, amiga, anda, vem beber comigo, faz o que te digo, vais ficar bem. Tens coisas más presas nessa cabeça, vomita-as e olha para as estrelas, talvez quando olhares para o lado, enquanto mantiveres as tuas mãos no ar e gritares, eu estarei ao teu lado, a guardar as coisas boas de que te esqueceste. Talvez me sente na relva ao teu lado, te ponha o braço no ombro e fiquemos assim a conversar silenciosamente por horas a fio, a viver cada segundo, ou talvez gritemos juntos, corremos juntos, dancemos juntos, amemos juntos. Talvez não façamos nada disto, porque eu não te quero ou porque me queres de mais. Agora ninguém me pode prender, eu deitei fora as algemas, nem eu me posso prender com palavras e passividade. És uma agulha num palheiro, mas eu sempre gostei de feno e não tardarei em te encontrar, quando menos esperar. Sei que és pontiaguda e afiada, mas também sei que não me vais picar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sem fachadas

Já não há disfarces, capas nem mantos a cobrir-me. O Sol bate-me na cara com toda a pujança e eu apenas fecho os olhos para não me cegar, enquanto esboço um esgar trocista. Sorrio apenas porque tenho razões para o fazer. Sinto-me tão egoísta, escolhi ser livre. Sorrio também porque não conseguiste o que querias e eu fui mais forte do que imaginaste e porque esta brisa quente que me afaga o rosto tem um sabor fresco. Habituado a ser livre, precisava apenas de me encontrar, nada me faz falta. Agora posso ser eu, mostrar-te quem sou e o que quero e não preciso que me olhes com pena. Lavaste-te nas minhas lágrimas, mas esqueceste-te de que elas são salgadas, riste-te dos meus sonhos mas ficaste em terra, choraste pela minha solidão mas nunca percebeste que eras tu a razão. O monstro que falavas, nunca o vi, porque nunca te mostraste e cuspiste-me quando te soube mal.

Não estou aqui, nem ali, estou em todo o lado, vou andando, sempre andando, por onde tiver de andar e posso até encontrar-te a meio do meu caminho mas os meus olhos jamais cruzarão os teus. Passo a passo, vou andando, subindo as escadas; não estou sozinho, nunca estive nem estarei. Tenho-me a mim próprio e a força de mil homens que caminham comigo de braço dado, mãos no ombro e uma vontade impenetrável. Um grito, já dei, mas não te matei porque não te disse nada quando te passei por cima.

Sem fachadas, aqui estou eu, despido de roupas e preconceitos, acessórios e estereótipos, vamos ser apenas nós? Criaturas belas que se cativam uma à outra. Ainda tens tanto para sentir, ainda tenho tanto para te ensinar. Esvoacemos despidos, com os cabelos ao Sol, abrace-mo-nos mas apenas por instantes porque está muito calor. Beijemo-nos até que o tempo o permita. Pela praia, pelo campo, pela cidade, pelo jardim, pelo apartamento, pelo sofá, pelo passeio, pela varanda. Não sei o que pretendes, nem o que pretendo, mas de uma coisa estou certo: não preciso de disfarces para amar e viver, portanto podes vir de mansinho que eu eu vou estar à tua espera.